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MOTORISTA DE TAXI – 02
(composta em 02/07/1981)

                                                               (José Fortuna-Paraíso – grav. Barrerito)

Eu fazia ponto no largo da igreja daquela cidade
Todos os domingos meu carro de praça deixava a brilhar
Só para chamar a atenção daquela que amava em segredo
Quando ela passava  e entrava na igreja para comungar
Um dia com o noivo procurou-me e disse: “eu quero o seu carro
Pro meu casamento e enfeite-o com lindos botões do jardim”
Ela não sabia que naquela hora seu  simples convite
Plantava espinhos sangrando de dor aqui dentro de mim

Enfeitei meu carro, fiz o seu desejo
Durante o cortejo, tinha a impressão
Que eu acompanhava em meu desespero
O triste enterro do meu coração

Do retrovisor eu via os noivos no banco traseiro
Em beijos e abraços, e eu morto de inveja sem nada dizer
Pensei em atirar o carro num poste e acabar com tudo
Mas lembrei que a ela não cabia a culpa por não me querer
No meu porta-luvas guardei um daqueles botões de roseira
Enquanto ele murcha também vai murchando minh´alma infeliz
Enquanto ela vive, alegre, contente nos braços de outro
Sou o motorista mais triste dolargo daquela matriz